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Crônicas da Pré-Escola: ” O dia que enchi as calças”

  
Crônicas da pré-escola: O dia que “enchi” as calçasTenho uma lembrança bem viva sobre os meus tempos de pré-escola: o dia que “enchi” as calças.
Tinha tudo pra ser um dia normal de aula, até começar o recreio.

Nesse dia, não me lembro o porquê, o recreio da pré-escola foi junto com o recreio de todos os alunos da escola, inclusive alunos de 13, 14 anos de idade. Para meu azar, no início do recreio tive a dor de barriga mais arrasadora da minha vida. Tentei ir ao banheiro da escola inúmeras vezes, porém todas sem sucesso. Além de lotado, os alunos maiores não me deixavam entrar no banheiro. Foi aí que tive uma idéia brilhante: vou esperar bater o sinal da volta do recreio e pedirei à professora para ir ao banheiro, pois o mesmo estará vazio. Professora essa que era muito amorosa, atenciosa e alfabetizava com maestria as crianças que passavam por sua classe.
E assim eu fiz. Retive com todas as minhas forças aquela avalanche de merda que se formava dentro de mim e me dirigi até a professora. Vale ressaltar que eu gostava muito dessa professora e achava que era recíproco esse sentimento por parte dela. Isso me levou a pensar que seria fácil essa tarefa e que ela me deixaria ir ao banheiro sem a menor objeção.
Ledo engano. Quando pedi a ela para ir ao banheiro, obtive uma resposta rápida e direta: “Não”. Tentei argumentar,  mas não obtive sucesso e veio outra resposta: “Você acabou de voltar do recreio e está querendo ir novamente ao banheiro? Vá sentar”.

Voltei para a minha cadeira e a partir daí não consegui mais pensar e nem fazer movimento algum. Comecei a suar frio e após intermináveis 5 minutos, juntei as últimas forças que me restavam e me dirigi bem lentamente à professora para lhe fazer o último apelo. Lembro-me que sua mesa ficava bem à frente e bem centralizada na sala de aula. 
Estudavam mais de 40 alunos na turma e nesse dia a sala estava cheia.
Com a voz baixa, arcado e com as pernas fechadas, quase que pedindo clemência, disse: “Professora, eu realmente preciso ir no (sic) banheiro.”

A resposta foi ainda mais direta e definitiva que a primeira: “Eu já falei que não!”.
Foi como se apertassem o botão do detonador de uma implosão. Como se desligassem a parte do meu cérebro que controla as necessidades fisiológicas do corpo. Frente à negativa da resposta, involuntariamente soltei os braços e a avalanche desmoronou.
Rapidamente a merda furou a barreira da cueca, desceu pelas pernas e chegou até ao tênis.

Ao invés de vergonha, senti alívio. Havia me libertado daquilo que me oprimia e tinha tirado até as minhas forças.
A professora, que me negara o direito de ir ao banheiro, teve que me dar até banho. Mas o principal é que em alguns minutos eu já estava de volta à sala e ao convívio dos colegas.
No lugar da calça, voltei de shorts para casa.

Minha História com o Cobol

 

Conheci o Cobol na faculdade, meio que por acaso, pois no final da década de 90 o que estava na moda eram linguagens visuais, com muitos recursos como o Visual Basic, Delphi, C++,  e linguagens voltadas à internet, como o Html e o Java Script. Assim, a linguagem que antes fazia parte da grade curricular do curso, passava a ser uma disciplina optativa e estava fadada a ser substituída por uma dessas linguagens mais modernas e que atraíam os mais jovens.

Mesmo com todo esse cenário desfavorável, como eu estava sedento por conhecimento, me matriculei na disciplina e desde a primeira aula a simplicidade e a estrutura do Cobol chamaram a minha atenção.

O que para muitos era chato e enfadonho, como desenhar fluxogramas e codificar em um editor simples e sem muitos recursos, para mim era pura diversão e entusiasmo. Fui pegando gosto pela coisa e me dedicando cada vez mais. Recordo-me bem que fechei a disciplina com a média máxima.

Quando chegou o momento de procurar estágio, me deparei com duas boas oportunidades: uma em Visual Basic e outra em Cobol. Participei e fui aprovado nos dois processos seletivos, mas na hora de decidir não tive dúvida: fui trabalhar com Cobol.

Fui explorando o universo da linguagem e me estabelecendo mercado de trabalho como uma espécie em extinção: analista programador Cobol. Era algo escasso no mercado, ainda mais um profissional de 21 anos de idade. Quando ia trabalhar em alguma instituição financeira, todos ficavam surpresos com aquele “menino” programando em Cobol e não em Visual Basic ou C++. A maioria dos meus companheiros de trabalho tinha mais tempo de experiência profissional do que eu tinha de idade.

Agora, sinto que estou passando para o outro lado e em pouco tempo passarei a ser reconhecido como mais um dos “dinossauros”, o nome carinhoso que é dado a quem programa há muito tempo com Cobol. Isso para mim é motivo de orgulho, pois nadei contra a maré quando decidi por este caminho.

E lá se vão doze anos de interação diária com essa linguagem. Muitos diziam que estava obsoleta e morreria em pouco tempo, mas o Cobol está cada vez mais vivo e sendo utilizado nas empresas que precisam de alta performance, segurança e estabilidade nas suas aplicações.

O Cobol vai morrer um dia? Talvez. Por enquanto, ele tem muito a oferecer ainda para todos nós.
 

Arroz com Feijão

 

Quando me perguntam qual o segredo para ser um bom programador Cobol, a minha resposta é simples e objetiva: faça o arroz com feijão.

Essa resposta pode parecer um tanto quanto simplista, mas se aplica muito bem a programação em Cobol.

Toda linguagem de programação tem inúmeros comandos, recursos, palavras reservadas,  e até conceitos, mas no caso do Cobol você não precisar utilizar todo o seu repertório léxico e semântico para desenvolver um bom código e o principal: que funcione perfeitamente.

Como o Cobol é utilizado principalmente em grandes empresas e instituições financeiras, os aplicativos desenvolvidos precisam ser os mais seguros, confiáveis e performáticos possíveis.

Acreditem: as empresas não buscam quem sabe fazer o programa mais complexo e que utiliza todos os recursos possiveís do Cobol. Elas procuram quem faz códigos confiáveis e seguros.

Quanto mais simples o código, mais fácil de entender e se dar manutenção ele é. Quanto mais rebuscado e complexo ele for, mais difícil ele será para documentar, entender e se dar manutenção.

Utilize o que você domina e sabe que funciona. Nada de “eu acho que esse comando ou essa função vai fazer o que eu preciso”.

Faça programas pequenos. Códigos com mais de 1000 linhas são desaconselháveis. É muito mais fácil dar manutenção em 5 programas de 1000 linhas do que em 1 programa de 5000.

Estruture e modularize o seu código. Fica muito mais fácil de entender.

Não seja criativo demais, pois não trabalhamos com marketing. Seja confiável.

Pense a respeito disso tudo que falei, pois é muito melhor comer um arroz com feijão bem feito e bem temperado, do que uma sopa de escargots dos alpes suíços salgada demais ou estragada.